Dizer que este é um dos filmes mais épicos que já vi é pouco. Até porque tem uma cena dum barco a subir uma montanha...
A história até é simples: um excêntrico ex-milionário apaixonado por Caruso tem o sonho de vir a construir uma grande ópera em plena Floresta Amazónica. Para isso, parte numa demanda, Rio Amazonas acima, em busca do negócio da borracha, de forma a ganhar o suficiente para realizar o seu sonho de vida. E o filme é basicamente sobre isto: o lutar tudo-por-tudo para realizar um sonho (bom, nem que para isso se tenha de pôr um barco a subir uma montanha...)
Os desempenhos dos actores são irreprensíveis, Klaus Kinski tem uma interpretação brilhante, a transpirar loucura e megalomania, e Claúdia Cardinale, bom, aparece (já é suficiente).
A realização é muito boa e a produção é qualquer coisa do outro mundo: centenas de índios, muitos quilos de árvores movidas, óptimas cenas num barco a cair de podre, orquestras, muita música, suor e loucura. Este filme é todo ele enorme e, sem “spoilar” grande coisa, não poderia acabar de forma não menos grandiosa do que com uma grande orquestra no tal barco a cair de podre, a tocar uma belissíma ária pelo Rio Amazona, com as margens carregadissímas de índios em êxtase...
Buster Keaton já é bom de ser ver em qualquer formato, estação do ano ou estado emocional. Mas ainda por cima ver Buster Keaton musicado ao vivo por dois músicos de jazz é ainda mais positivo. E, a acrescentar a tudo isto, ver Buster Keaton no IndieJunior numa sala repleta de crianças ainda é mais genial!
Onde as piruetas do Mister Pamplinas se misturam com as gargalhadas inocentes dos putos, a genialidade da obra dum dos mais criativos actores e realizadores de sempre se perde pelo seu olhar inexperiente. Mas não faz mal, eles divertem-se à mesma. Mas além desse divertimento despreocupado (que é óptimo!), Buster Keaton oferece-nos uma realização arrojada, repleta de cenas de acção muito à frente do seu tempo: perseguições, peripécias perigosas sem duplos (neste filme chegou a partir o pescoço) e muita comédia de alto nível.
Em relação à parte sonora, esta foi deixada a cargo de dois excelentes músicos, António Pedro e Felipe Rocha, que, desde percussões, teclados, guitarras e apitos vários, reproduziram barulhos e vozes (a relação e entre putos e intertítulos não funciona muito bem...) na perfeição.
E não me venham dizer que Chaplin é o rei da comédia muda... (o pessoal do “The Dreamers” tinha discussões parvas!)
Para terminar, outro dos filmes que fui ver, "Tony Manero", apesar da premissa interessante, revelou-se como uma grande desilusão. Supostamente seria um drama sobre um psicopata fanático pela personagem do John Travolta em "Saturday Night Fever", mas revelou-se como apenas um filme bastante medíocre. Apesar de mostrar de forma crua uma realidade pobre e suja da América Latina, a narrativa torna-se bastante empastelada (por vezes picuinhas e sem qualquer tipo de interesse) sem aproveitar o fulgor que a "plot" do filme poderia prever.
De resto, bons filmes, e deixo os outros comentários sobre o festival para o Nuno...trabalha pá!