Se é possível haver uma certa transversalidade entre várias artes, e se se podem seduzir e invadir umas às outras, então é da nossa responsabilidade relatar tais excursões em relação à 7ª arte!
Como a música invade o cinema desde sempre (musicais, biopics, etc.), também o cinema invade a música com toda a sua cavalaria! Falo-vos do Concerto para Maquinarias e Estados Líquidos que se realizou a semana passada na Culturgest, um projecto do Canal Zero. Formado por três jovens rapazes a convite do Monstra de 2004 (Festival de Cinema de Animação de Lisboa), o projecto serviu como forma criativa de musicar um filme de Emil Cohl. Assim nasceu uma série de novas (e originais) ideias, um espectáculo que tem sido refinado desde então, e que surge como uma relação bastante promiscua entre electrónica, acústica e multimédia.
Passo a explicar: o concerto apresenta-se quase como uma performance, onde a música é construída por electrónicas ??? e muita guitarrada à mistura, sendo acompanhada visualmente por projecções de imagens captadas em tempo real por um dos elementos da banda. Imagens estas, que constroem toda uma narrativa metafísica que caminha lado-a-lado com o ruído, contando uma história que vagueia entre o pueril e o maquinal. Daí vem a linguagem cinematográfica que interessa falar neste blog: uma história que contém, desde samples de diálogos de crianças a "coros" dum rebanho... Tudo isto entrelaçado com música industrial (desde momentos de pura sensibilidade, até máquinas de escrever a partilhar o espaço com distorções de guitarras destemidas), resultando daí uma dicotomia bastante interessante e ritmada.
Ora, todo este confronto entre o maquinal e o orgânico é explicitado pelas projecções e pelo próprio ambiente em si. A música semi-"robotizada" é acompanhada, em muitos casos, pelo teclar mecânico de máquinas de escrever antigas; ao mesmo tempo que câmaras, minuciosamente colocadas de modo a se verem os mecanismos e rodas dentadas do interior da máquina, nos debitam imagens hipnotizantes a grande velocidade. Uma música a borbulhar à superfície é acompanhada por imagens de um dos elementos da banda a largar tinta vermelha sobre parafusos ferrugentos, criando sequências sombrias de jogos de luzes e invocações a cenas de cinema de terror oldschool. As partes orgânicas e de acalmia são preenchidas por silêncios e espaços, prontos a serem ocupados. Tudo conjugado numa narrativa incerta e surreal, rica ou despida sonoramente, mas sempre bastante completa visualmente.
Podem ver um pequeno video aqui: canalzero.net
Sem comentários:
Enviar um comentário