Timeless Harvest (de Martin Verdet)
Para quem gosta de música, este filme é fundamental. Não só por tratar de aulas de música clássica numa espécie de campo de férias (numa quinta isolada perdida algures na Dinamarca), mas sim porque, o que poderia ser um simples relato das aulas, tornou-se numa declaração apaixonada ao sentido auditivo. Em primero lugar, porque o importante para o realizador não foi só a música criada na sala de aula, mas também toda a musicalidade do dia-a-dia na quinta - o som duma laranja a ser cortada, dum tractor a lavrar a terra, do vento a bater contra as janelas - tudo está presente na pauta deste filme. A acompanhar, violinos, violoncelos e muita dedicação.
Mas o que realmente impressiona é a forma como o realizador decidiu captar a relação entre alunos e professores: close-ups que nos aproximam a essa ligação estreita, planos a enquadrar os vários intervenientes por camadas - a mão que pega no arco, o olhar atento do professor, a expressão do aluno que está a tocar - numa composição que interliga a mistura entre primeiros planos e planos médios de Bergman com um tipo de realização mais típica de cinema documental. Em relação à tal expressão do aluno que está a tocar, essa é outras das grandes mais valias desta película. Através dos tiques e movimentos, o espectador transporta-se para o universo sensorial do músico e quase que consegue sentir a sua forma de sentir a música. E é essa relação estreita que conseguimos traçar com os músicos que realmente importa neste filme, e que, sendo um filme sobre música, acho que o seu objectivo não poderia ter sido melhor conseguido.
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