sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

AVATAR - o déja vu mais caro de sempre

Francis Ford Coppola uma vez disse “Quanto menor é o orçamento, maior tem de ser a genialidade.”. Não podia estar mais de acordo. As pessoas tendem as esbanjar quando têm demasiados recursos e esquecem-se do essencial e dão mais valor às futilidades.
Avatar é um exemplo disso. Às vezes parece mais uma montra de efeitos especiais, do que um filme. Cinema é outra coisa. Um filme é contar uma história e o que, normalmente, marca um filme como sendo bom é a sua história, o enredo. (E por vezes performances espectaculares no que toca aos actores.)
Avatar também marca. Pelo preço. E pelo visual. É o filme mais caro de sempre. Se formos a ver dava para comprar dois Cristianos Ronaldos e ainda sobrava uns trocos para o cafezinho. O dinheiro investido em efeitos faz-me lembrar a megalómanonice de Stanley Kubrick quando se lembrou de fazer 2001: A Space Odissey. Uma grande diferença entre estes dois filmes é mesmo o sumo da história. O facto de ser o filme mais caro de sempre, não faz dele um bom filme, faz dele, pura e simplesmente, o filme mais caro de sempre. Óbvio.
O filme começa com um traço que é familiar a alguém que já tenha visto meia dúzia de filmes que passam nos canais generalistas portugueses. Pessoas que estiveram a dormir em cápsulas durante algum tempo e depois acordam?, quase que me fez (fez mesmo) lembrar o Matrix. Depois o início da história também não me parece completamente inédito: “O teu irmão gémeo, que ocupava um cargo muito importante, morreu. Tu, que és igual a ele, és a pessoa ideal para o substituir, embora não tenhas metade das qualidades dele. Por isso temos de te treinar.” não é nada que já não se tenha visto o Anthony Hopkins a dizer a Chris Rock no Bad Company, filme que passa na SIC várias vezes por ano. Isto é perdoável, afinal de contas também ainda só passaram 20 minutos de filme.
Não é difícil “ver” alguns dos filmes mais conhecidos ao longo de Avatar. Entre as cenas cliché, os diálogos também são aborrecidos porque “estava-se mesmo a ver…”.
O filme é um cliché gigante. Eu não sou a Maya e achei que era tudo demasiado previsível. É mais do mesmo que já existia. Começando em diálogos de frases feitas, até às cenas last minute rescue típicas, passando por mistérios forçados, são vários os déja vus que vamos tendo.
Em termos técnicos é uma obra de arte. É o mais perto do céu que se pode chegar, hoje. Faço uma grande vénia a todos os animadores, técnicos de captura de movimentos, os modeladores das caras das personagens e dos cenários, à malta que faz as explosões e tudo mais, o trabalho deles foi soberbo. Mas, como já disse, os efeitos especiais ajudam a contar melhor a história, agora quando a história não tem assim tanto valor, todo o dinheiro gasto é um tanto ou quanto em vão.
Tenho uma pergunta, onde é que foi parar aquela Grace (cientista) que pede um cigarro com tanta agressividade nos primeiros momentos em que aparece? A resposta que encontrei foi que ela deve ter mais do que um avatar… Porque a personagem parece desaparecer ao longo do filme.
Ao contrário do que seria de esperar, acho que o filme falha monumentalmente em aspectos tão básicos como nas personagens. Passadas quase 3 horas de filme ficamos sem conhecer bem as personagens nem ter qualquer ligação com elas. As cenas mais emotivas perdem alguma da sua pujança por isto. Como diz Tarantino, um filme passa a ser um filme a partir do momento em que o espectador sente alguma empatia com as personagens e se importa realmente sobre o que lhes vai acontecer.
Acho que é bom filme para pessoas com cerca de 15 anos, demasiado comercial. Pedia-se mais, acho eu. Apesar de tudo não desaconselho ninguém a ir ver o filme, afinal de contas é uma experiência visual e tanto. Em 3D se possível.
“Uma história de amor”, como lhe chama Cameron, que mais me faz lembrar o ainda fresco Twilight (por ser previsível e já visto), pelo qual não simpatizo nem um bocado. Se era para ser uma história de amor, ao menos que fosse boa, ao estilo Casablanca.
O meu concelho: façam bonecos, peluches, jogos de computador, DVD edição de coleccionador, roupa, mochilas e material escolar como merchandising para renderem os 200 milhões. Não é que o filme não vá render bom dinheiro, mas já que o filme tem tanto travo a filme comercial, aproveitem a fama e encham os bolsos.
Isto é um grande avanço em tecnologia para o cinema, sem dúvida. Mas os efeitos especiais devem ser vistos como um meio e não como um fim. Chamaram-lhe revolução, mas se isto é o futuro do cinema, deixem-me os velhinhos a preto e branco.

(Devo salientar que a minha opinião não tem nenhuma validade, afinal de contas não tenho qualquer legitimidade para falar, a única coisa que fiz foi ficar sentado no escuro, calado, sem me mexer, a ler as legendas, durante 2h45. Não mexi uma palha e ainda venho para aqui reclamar. Para além disso, não tenho qualquer conhecimento para falar de cinema, a única coisa que me limito a fazer é falar do meu gosto pessoal. Shame on me…)

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