quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Director's Cut 2008-11-13

A morte de Sérgio segundo Artur Silva e Ana Filipa Dionísio.

http://archive.radiozero.pt/directorscut20081113.mp3

terça-feira, 18 de novembro de 2008

devil come to hell and stay where you belong

A linha que separa um documentário de um filme de ficção pode ser muito ténue: acho que este foi o pensamento que mais vezes me passou pela cabeça durante o meu primeiro CPH:DOX - Festival Internacional de Documentários em Copenhaga. O segundo foi: Que selecção... que festival!

Uma sessão da meia noite é sempre uma sessão especial. Pelos mais diversos motivos: porque serviu para curar uma insónia ou tapar umas horas que teriam sido passadas em frente ao pequeno écran, porque a sala estava vazia, porque já se vai com a companhia habitual das sessões da meia noite, porque o filme só passa mesmo a essa hora...

A meio do documentário Devil come to hell and stay where you belong e entre dois cabeceamentos típicos de quem está cheio de sono e no quentinho, perguntei-me a mim mesma porque raio é que estariam a passar este filme numa sessão da meia noite, e apenas numa sessão da meia noite. As premissas eram: road-movie, no plot, sexo, Bonnie & Clyde, Vincent Gallo, Bruno Dumont e Claire Denis (não confundir com Claire Danes). Mas até agora não tinha nada mais do que uma série de filmagens de um casal a atravessar os Estados Unidos de carro, filmando ora um ora o outro com a câmara a oscilar incessantemente, excepto quando a câmara está fixa e aparecem os dois, ora perto, ora longe. A ausência de diálogos e o ritmo do filme à la Brown Bunny estavam a deixar-me sonolenta.

É que ainda por cima não tinha sido filmado com a graça com que foi filmado o Brown Bunny. Por mais bonitas e inóspitas que as paisagens sejam (e por mais crus que sejam os detalhes dos animais mortos à beira da estrada), e por mais iguais entre si que todos os motéis à beira da estrada sejam, cortar assim as cenas sem mais nem menos não é de todo bonito.

Mas vá. É um documentário. São imagens reais, da vida real. E aquela música dramática e teatral à Michael Nyman que vai surgindo, apenas durante alguns segundos, com frequência aparentemente aleatórea mas afinal parece que crescente, deve ser só mesmo para acordar o pessoal que adormeceu.

Até à última vez essa música surge. A última sequência do filme está maravilhosamente montada, e prende-nos ao écran com uma intensidade tal, para depois nos atirar à cara uma violência de que não estávamos à espera. (Eu sabia! Brown Bunny!) E aí toda a minha visão do filme mudou, foi como se o tivesse rebobinado naquele instante, na minha cabeça. De um filme frio e árido, passou a um filme extremamente orgânico e até a modos que intenso.

Tenho sérias dúvidas sobre a realidade da cena final. Porque num documentário, tudo o que foi filmado aconteceu na realidade, não é? Neste caso, pelo menos para mim, fica a dúvida no ar. Ah e tal, extinção das espécies (ainda estou para perceber a referência a isto que li num artigo sobre o filme algures na net), mas eu acho que apesar de tudo a consciência humana ainda prevalece sobre os actos geralmente associados aos animais. E nem os animais!

E no fim, de novo,



só para nos lembrarmos de que já sabíamos à partida que íamos ver um filme com este nome.

Ok, já chega. Debato-me então: se a cena final é falsa, então para mim todo o filme é falso, e foi feito com um propósito, que eu não sei qual é. Se a cena final é real, então, bem, nem quero pensar. Houve quem sugerisse artist bullshit?, e do pouco que encontrei na net sobre os dois realizadores/actores/etc - Massimiliano & Nina Breeder, estes parecem de facto estar ligados mais ao mundo das galerias de arte do que do cinema. Mas isso não quer dizer nada...

Ana

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Ensaio sobre a cegueira - uma questão de identidade

Em primeiro lugar, nunca li o livro (infelizmente), e por isso mesmo não posso fazer as normais comparações à obra de Saramago (mas confesso que depois de ver o filme tomei consciência de que o livro deve ser realmente brilhante!).

Bom, tendo em conta este pressuposto, posso dizer que gostei bastante do filme. Apesar do início algo duvidoso, à medida que se desenvolve torna-se num poderoso estudo sobre a condição humana, algo entre o Dogville de Lars Von Trier e o Triunfo dos Porcos. Apesar dos boicotes hipócritas de certas entidades devido à forma como os cegos são retratados no filme como “anormais”, o filme trata esse aspecto apenas como uma metáfora. A forma, não o conteúdo. E aí reside a genialidade do argumento.

E em termos de conteúdo há muito: a esquizofrenia e a desorientação inerentes à perda dum pilar fundamental (e dado como adquirido) na nossa vida, e o consequente retorno ao comportamento primitivo, à luta pela sobrevivência e à satisfação dos instintos mais básicos a qualquer custo. A partir desse estado as personagens partem para um comportamento à lá “porcos”: a construção duma sociedade sem escrúpulos num ambiente anárquico. E aí residem algumas das cenas mais fortes do filme. A falta de ética e do mais básico respeito e amor-próprio: já não sou Eu, sou apenas um corpo por alimentar. E afinal, nestas condições o que é este “Eu”? Num mundo onde os nomes não interessam e onde não existem caras, qual é a nossa identidade? Sem o nosso ritmo de vida normal, profissão, amizades e relações, quem nos define? Para mim, este é o tema fundamental da história e o que mais me impressionou, apesar de se perder bastante no filme: no livro além de não haver nomes (as personagens são identificadas pelas suas classes ou particularidades: o médico, a mulher, o velho, etc.), também não existe a definição visual que o filme dá, o que remete ainda mais para essa falta de identidade…

Há outros pormenores deliciosos: o facto do médico, depois de muita frustração pela forma como dependia excessivamente da mulher, se consegue adaptar e ir às escuras pela cidade; a revelação de, depois de muitos minutos de película em que a mulher do médico nos parece a única minimamente humana, se deixa influenciar pelo ambiente selvagem na cena em que protege a comida dos “lobos” à porta do supermercado; e principalmente o comportamento desprezível dos saudáveis em relação aos cegos, ao desconhecido (com uma breve incursão irónica à religião). A ignorância transforma-se em medo, e o medo em violência, patente em cenas tensas como “o médico à procura de medicamentos” vs. “o soldado stressado”… Por fim, e sem spoilar nada, o final deixa-nos uma sensação, ora de esperança, ora de profunda perplexidade para uma nova realidade: como começar de novo se tudo em que acreditávamos foi desacreditado?

Em termos mais técnicos, a fotografia e o estilo de realização ajudam a uma boa contextualização, apesar de a estética usada ser por vezes um pouco excessiva (mas interessante). Os cenários estão muito bem conseguidos e as interpretações são bastante consistentes (Julianne Moore à cabeça). Talvez o maior defeito que consigo apontar ao filme é uma certa dificuldade em revermo-nos nas personagens, apesar de até preferir este distanciamento como forma de aumentar o conceito de falta de identidade…

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Noiserv ao vivo no S. Jorge, porque neste blog não há só cinema

Que dizer?

Confesso que, apesar de conhecer a pessoa que integra este projecto, ainda não tinha ouvido nada.

Antes disto eu apenas perguntei: "mas é como? diz-me o estilo?", todas aquelas perguntas que são óbvias e pertinentes nestes casos. Diziam-me coisas tão díspares que nem vale a pena aqui mencionar, pois só servem para confundir.

Entrei no concerto, rodeado de pessoas que creio poder chamar amigos, ansiosas por ver outro amigo em palco. Isso só por sí valia o bilhete.

Começou a música.

Que posso eu dizer? Que fiquei surpreendido? Sim. Que esperava outra coisa? Sim.

Fiquei surpreendi e esperava outra coisa. Esperava algo medíocre, admito. Fiquei surpreendido porque é bem melhor que o que estava à espera. E "bem melhor" é pouco.

Alguém hoje me disse: "Houve uma pessoa que ouviu Noiserv e esperava uma coisa assim (mão à altura da cabeça), e ouviu algo assim (mão a subir, a subir...)". Ok, concordo.

David Santos aka Noiserv fez uma grande apresentação ao seu álbum, acompanhado de um elenco de amigos que produziram um grande espectáculo, tanto acústico como visual. As imagens de Diana Mascarenhas colocavam o selo de intimidade a esta apresentação, não distraíndo mas sim dando ao público algo para ver além de David rodeado de guitarras e teclados - que tanto usou. Tirou a atenção do público daquilo que, para o artista, é trabalho, deixando-nos apenas com a melodia que é o produto desse trabalho. Não nos interessou o processo, o resultado é bonito.

A simpatia de David fez-se sentir em palco à medida que chamava a companhia de Rodrigo Piedade ao piano e, mais notavelmente Luís (peço perdão por não saber o último nome) aka Walter Benjamin - um multi-instrumentalista que não me deixa de surpreender, tanto pela empatia como pela facilidade com que faz soar bem qualquer coisa, em qualquer contexto. Calculo que se lhe déssemos somente uma colher ele conseguia fazer um álbum à lá Phillip Glass.

Mas falava eu de simpatia e isso lembra-me o momento antes do encore, com um coro composto por amigos de Noiserv - daí eu insistir no termo "simpatia", é a primeira palavra que me ocorre durante todo este post - , num momento que, sendo o fim do espectáculo, nos deixaria simplesmente satisfeitos e com um sorriso parvo na cara. O concerto acabava ali e eu simplesmente ía para casa dormir satisfeito.

Não foi o fim do espectáculo, e posso dizer que - agora, estando em casa - estou satisfeito na mesma. Não foi o fim do espectáculo e ainda bem. Agora quero é ouvir mais.

Ainda não falei nada sobre o tipo de música, mas isto é um blog sobre cinema... o que estavam à espera? Vai haver críticas noutros lados, por isso leiam aí.

Sei é que - e numa tentativa de dar a temática cinematográfica a este post - se fizer um filme, gostaria de convidar Noiserv e Walter Benjamin para a banda sonora. A música já existe... pode ser que me inspire para o filme.

Para quem ainda não apanhou na rádio:

Walter Benjamin: http://www.myspace.com/Iamwalterbenjamin

Noiserv: http://www.noiserv.net/

Sérgio Cruz Serra

A Turma - Entre Les Murs

Já foi dito muito sobre este filme, mas pode ser que não tenha passado a mensagem: "vão vê-lo!"

Laurent Cantet juntou-se a François Bégaudeau - autor do livro que originou este filme - para criar uma obra prima que se funde com a vida real. Se o filme é baseado no livro, este é baseado nas experiências de Bégaudeau como professor em Paris.

Mas quem diz Paris, pode bem dizer Lisboa, Odivelas, Loures, Porto, Amadora, ou qualquer outra escola deste país. Para dar uma ideia, aqui estão alguns relatos de professores deste nosso país:

Será possível que um filme seja tão real? Falassem português e aquela era, em tudo, uma escola no Portugal real. A ver, obrigatoriamente! Em especial por todos aqueles que estão distantes desta realidade.

Susana Tibúrcio Brito, professora no Colégio de Pina Manique

Como professora senti-me feliz ao ver este filme… Achei-o maravilhoso, fantástico, tão próximo da realidade que até aflige… Aquela turma pode ser qualquer uma das minhas turmas, das turmas de qualquer escola deste país… É bom ver finalmente no cinema algo que nos toca tanto…

Luísa Lopes, professora da Escola Secundária D. Dinis em Chelas

Fui ver ontem. Ficámos à conversa muito tempo depois. A nossa escola tem muitos casos decalcados a papel químico. Filme a não perder por todos.

Anabela Gaio, professora

Agora a minha opinião.

Para um filme de mais de duas horas, não há um momento de aborrecimento. Posso falar aqui de nostalgia, posso falar aqui de identidade que tive com alguns alunos, posso até dizer aqui que conheço todos os personagens. Vocês também os conhecem. Aqueles vossos colegas do 5º ao 9º ano estão ali todos, versão século XXI.

Senti um choque pela realidade dos nossos tempos, mas ao mesmo tempo não me surpreendeu. Desde o famoso episódio do "dá-me o telemóvel", que temos vindo a ser brindados com novelas do mundo estudantil. Para nos actualizarmos, nada melhor que o public service anoucement de 128 minutos dado por este filme.

Por momentos sorrimos, por momentos ficamos nostálgicos, por momentos ficamos a torcer ora pelo professor ora pelos alunos - mas compreendemos todos.

Gostamos de pensar que temos a maturidade do professor e a inocência e espirito rebelde dos alunos. Senão este filme não teria sentido. Mas graças a isto tudo, tem. E ainda bem.

Entre les murs, distribuído pela Midas Filmes, em exibição no Londres, El Corte Inglés, Alegro de Alfragide e Cascais Villa na zona de Lisboa, e no Lusomundo Mar Shopping e UCI Arrábida na zona do Porto, entre outros. Devia estar em mais.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Passatempo Estoril Film Festival

Cá estamos nós a acompanhar mais um festival.

O Estoril Film Festival, na sua segunda edição, traz alguns dos nomes sonantes do panorama cinematográfico e, como poucas estrelas não fazem uma constelação, querem que tu te juntes a eles neste evento. Sim, estou a dizer que vocês são as estrelas que faltam para a constelação. Sim, eu sei que foi uma metáfora ridícula...

Participem, portanto, no nosso passatempo, clicando aqui.

E estejam atentos durante o festival, pois vamos tentar acompanhá-lo aqui no blog.
Deixem uma palavra amiga... I'm needy.

Boa sorte!

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Director's Cut - 6 Novembro

artur
sérgio
loira
ana f
nick cave
obama
joão baião

Que têm estas pessoas em comum? Provavelmente nada.

http://archive.radiozero.pt/directorscut20081106.mp3

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

RIP Michael Crichton

Michael Crichton, escritor (e realizador e produtor de cinema e produtor de TV e médico - a sério, médico!) conhecido no mundo do cinema por ter criado as histórias de (só para mencionar uns...) Andromeda Strain, Jurassic Park, Westworld - realizando este último e uma mão cheia de outros -, morreu na passada terça-feira, vítima de cancro.

Os seus romances, que denotam sempre um grande background de pesquisa, preenchem as estantes de muitos fãs que, tropeçados por este infortúnio inesperado, esperavam ainda muito mais do escritor de 66 anos.

Quem nunca leu, poderá sempre dirigir-se a uma livraria que, certamente, tem os seus livros. Caso estejam esgotados, nos próximos tempos irão encher, por tributo (e por dinheiro) a um dos grandes escritores de best sellers deste século.

Trivia para quando alguém vos perguntar "hey, sabes que o gajo que escreveu o Jurassic Park morreu?", para que vocês possam sair por cima: foi dado o nome dele a um dinossauro, descoberto em 2002... Crichtonsaurus bohlini.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

TWELVE O'CLOCK HIGH (1949)

No âmbito da cadeira de AOSI de MEIC, o professor aconselhou todos os alunos a ver o filme Twelve O'Clock High (1949), um filme sobre liderança!

Mas, não querendo restringir o filme ao pessoal da cadeira, o Cinema ParaIST intercedeu e convida toda a gente que queira assistir a este filme.

O visionamento ocorrerá dia 7 às 17:30, na sala PA1, localizada no edifício de Pós Graduação.

Apareçam!

domingo, 2 de novembro de 2008

Ode à paranóia



Para muitos, até para mim, Burn After Reading parecerá uma direcção estranha tomada pelos Coen depois de No Country. Confesso que, apesar de ser um fã devoto dos Coen, não gostei muito do filme à partida, mas nos dias seguintes dei por mim a defendê-lo a gostar cada vez mais dele.

É fácil reduzir este filme à simples sátira, um mero retrato cómico da actualidade em que estas figuras que coexistem em Washington DC são pura e simplesmente ridicularizadas. Foi o que me pareceu à primeira vista, e o que agora estou convencido de não ser verdade. Não falta ao filme uma panóplia de personagens gananciosas, adúlteras, inseguras e incompetentes, que não apenas o objecto da sátira, mas que na sua tristeza - virada comédia, acabam por ser os heróis. Toda a gente neste filme está a agir segundo uma suposição que está errada, e agindo sob a sua colossal paranoia criam a realidade percebida pelos outros personagens, e isto acaba numa divertida montanha russa em que tudo acontece por razão nenhuma e já não conseguimos perceber como é que as coisas chegaram a este ponto. Neste sentido, Burn after reading é o filme mais parecido com Blood Simple de todos os outros da carreira dos Coen. O perfeito noir.

É também um filme de autor para actores brilharem. George Clooney supera-se a cada filme. Brad Pitt está simplesmente incrível. Todos os membros do elenco dançam com graciosidade neste pesadelo morno repleto de gargalhadas.

Report back to me when this makes sense.

Artur Silva