domingo, 2 de novembro de 2008

Ode à paranóia



Para muitos, até para mim, Burn After Reading parecerá uma direcção estranha tomada pelos Coen depois de No Country. Confesso que, apesar de ser um fã devoto dos Coen, não gostei muito do filme à partida, mas nos dias seguintes dei por mim a defendê-lo a gostar cada vez mais dele.

É fácil reduzir este filme à simples sátira, um mero retrato cómico da actualidade em que estas figuras que coexistem em Washington DC são pura e simplesmente ridicularizadas. Foi o que me pareceu à primeira vista, e o que agora estou convencido de não ser verdade. Não falta ao filme uma panóplia de personagens gananciosas, adúlteras, inseguras e incompetentes, que não apenas o objecto da sátira, mas que na sua tristeza - virada comédia, acabam por ser os heróis. Toda a gente neste filme está a agir segundo uma suposição que está errada, e agindo sob a sua colossal paranoia criam a realidade percebida pelos outros personagens, e isto acaba numa divertida montanha russa em que tudo acontece por razão nenhuma e já não conseguimos perceber como é que as coisas chegaram a este ponto. Neste sentido, Burn after reading é o filme mais parecido com Blood Simple de todos os outros da carreira dos Coen. O perfeito noir.

É também um filme de autor para actores brilharem. George Clooney supera-se a cada filme. Brad Pitt está simplesmente incrível. Todos os membros do elenco dançam com graciosidade neste pesadelo morno repleto de gargalhadas.

Report back to me when this makes sense.

Artur Silva

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