We (Wo Men)
Este filme relata a luta travada por alguns indivíduos chineses para alterar o estado da sua nação.
Só isto. Infelizmente, a ideia - que consegue atingir-nos logo nos primeiros 10 minutos - arrasta-se por um filme que, no catálogo, tem 102 minutos - apenas no catálogo, pois na vida real tirou-me anos de vida.
Compreendo e respeito bastante o tema mas, como longa metragem, o filme acaba por perder a nossa aprovação.
Um bom filme que nos coloca na pele de quem quer fazer a revolução no seu país. Um mau filme para quem sente a sua pele bem aconchegada numa cadeira de cinema.
Gonzo: The Life and Work of Dr. Hunter S. Thompson
"Dirty old man..."
Uma expressão que eu, como muito boa gente, geralmente associa a Charles Bukowski. Concordo plenamente: uma vida cheia de mulheres, apostas, drogas e álcool, muito álcool, dá justamente esse "título" a uma pessoa. Mas nunca tinha pensado na expressão "dirty young man" até ver hoje o documentário sobre Hunter S. Thompson.
Hunter S. Thompson pode não ser muito conhecido para nós, Europeus - algo que mudaria se não tivesse tirado a sua própria vida em 2005, e se tivesse continuado com o seu estilo jornalístico durante os anos de G. W. Bush. Aí sim, eu assinaria a Rolling Stone.
Mas conhecemos bem a personagem Raoul Duke do filme Fear and Loathing in Las Vegas - Delírio em Las Vegas, encarnada por Johnny Depp, que não é mais do que o alter ego deste senhor Hunter Thompson durante uma viagem feita a, como o nome indica, Las Vegas. Porém, a viagem que o filme de Terry Gillian tão alucinantemente descreve - com um argumento que parece ter saído da máquina de escrever em forma de insecto de William Burroughs - é apenas uma gota de água num copo já de si muito cheio (e se estava cheio de whisky tem sido, de tempos a tempos, esvaziado por Hunter).
Se o filme de Gillian é uma viagem repleta de alucinogénicos, este Gonzo: The Life and Work of Dr. Hunter S. Thompson é como consumir um cocktail de drogas, misturar com whisky, entrar numa montanha russa e ler o Naked Lunch todo numa só hora. A injecção de informação, em ritmo acelerado, faz prever uma ressaca muito grande, amanhã.
Em busca do American Way of Life, Hunter S. Thompson agarra-se à filosofia de Timothy Leary - trocando a música tibetana por Rock'N'Roll -, segue os infames Hell's Angels, tenta concorrer ao cargo de xerife na pacata terra de Aspen - antes das estâncias de ski, presumo -, apoia candidatos políticos (por "apoio" entenda-se "estragar a vida dos políticos da oposição"), atingindo depois um estatuto como escritor, com fama apenas comparável à das estrelas de rock.
Com um humor fora de série, bem presente nos seus artigos para a Rolling Stone, Hunter S. Thompson ainda era visto como um excêntrico, facto auxiliado pelo seu apetite por auto-destruição. Com aparentes problemas mentais, podemos ver esta pessoa como a base para a personagem R.P. McMurphy de Ken Kesey - também mencionado neste filme -, do livro (e filme) Voando Sobre um Ninho de Cucos.
Extrovertido, amante de drogas, mulheres e armas, dava com as suas palavras um tiro certeiro no estado actual da sua sociedade. E, se não encontrou o American Way of Life, acabou por criar o Hunter S. Thompson's Way of Life.
Se não havia notícia, ele criava-a. Num dos (vários) momentos hilariantes do filme, e ilustrando um óptimo exemplo do estilo jornalístico gonzo, discute-se a possibilidade de um político estar viciado na droga Ibogaine. Alguém perguntou a Thompson se era verdade que esse rumor tinha começado em Milwaukee. A resposta foi "claro que é verdade, fui eu que o comecei. E, sendo verdade, agora sabem que sou um jornalista sério".
Tudo isto temos neste filme, com o extra de ter Johnny Depp a "repetir o papel de Hunter", narrando as palavras que agora só podem ser lidas, que nunca foram nem serão proferidas em voz alta pelo escritor - com aquele ritmo único, quase musical, a substituir a sua voz.
Imperdível, mesmo para - ou especialmente para - quem não conhece o trabalho de Hunter S. Thompson.
Refraseando: imperdível para todos aqueles que ainda não estão convencidos do ditado "a caneta é mais forte que a espada". Hunter podia não escrever com caneta, mas a sua máquina de escrever certamente fez vacilar exércitos.
Assim me despeço pois quero agora ir ver o Fear And Loathing in Las Vegas. Aproveitar a embalagem.
Tenho aqui whisky e um monte de cigarros - agora, onde vou encontrar uma boquilha para os segurar, a esta hora da noite...?
Sérgio Cruz Serra
Gonzo... repete dia 23 de Outubro, às 20h30, na sala 1 dos cinemas Londres.
We (Wo Men) repete dia 19, às 21:30, no Museu do Oriente, e dia 21 de Outubro, às 15h, na sala 1 dos cinemas Londres.
sábado, 18 de outubro de 2008
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